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Ilha de Calor

  • 22 de Maio de 2019

No glossário, Ilha de calor é aumento da temperatura na cidade urbana, causada pela ação das pessoas quando se juntam e se afetam. No poético, Ilha de calor é o que somos quando lutamos para resistir dia após dia nessa cidade que tanto nos quer esfriar. A cidade uniformiza, assemelha, define regras; supõe “cidades imaginárias” que existem tão somente num delírio de tão antissépticas, limpas, brancas. Verdadeiros projetos de “futuro”, montam vídeos e imagens que imaginam como seriam uma cidade de cidadãos todos iguais, mesma cor, mesma política, mesmo tipo de cinema favorito. E, se a cidade lá fora os decepciona, com todas as suas imperfeições e diversidade, trancam seus ideais entre muros de fortalezas e constroem a cidade “perfeita” no coração da cidade imperfeita — tentando se tornar ilhas num vasto mar de realidade.

Propomos aqui outra realidade. Propomos que também vamos e voltamos, vivemos a cidade, damos voltas, cirandas, somos quentes e por isso suamos debaixo do sol. Somos vários. Querem nos separar de onde somos, querem nos apagar de suas paisagens, querem projetar um futuro sem a gente. Dizemos que não. Que temos pés para caminhar, rodas numa bicicleta, voz para falar alto, e temos não uma só cor ou política mas várias cores e políticas. Somos plurais, somos oceano. Resistimos, e nossas águas são mais quentes que as areias limpinhas dessas tais ilhas de calor.