Menu

Jornalismo serve para vender publicidade (e violência)

  • 27 de Agosto, 2020

Diário.png

OPovo.png

Tribuna do Ceará.png

Ler notícias me faz mal.

Decidi investigar o porquê de não gostar de acompanhar jornais e telejornais. O motivo acabou ser bem simples: apesar da dinâmica do jornalismo online me permitir fazer certa "curadoria de notícias" (assinando canais de comunicação específicos, por exemplo, o Instagram do caderno de Vida e Arte do jornal O Povo), as páginas iniciais dos principais jornais do Brasil não me permitem exibir só o as notícias que me interessam.

O panorama "geral" de notícias exibidas (a página inicial) é curado de forma a exibir as matérias que os jornalistas considerem ser de maior importância e relevância para o veículo, em destaque as notícias que irão gerar maior audiência (ou visitantes, no caso da página). Atraindo mais gente, o jornal vende mais publicidade, e quanto mais publicidade, mais receita.

Violência urbana (crimes, assassinatos, investigações) é, juntamente com esporte e política, um dos grandes interesses do jornalismo brasileiro. Muita pesquisa pode partir (e certamente já partiu) desse fato. Que outro jornalismo é possível? Como fazer jornalismo sem depender de publicidade direta e número de acessos? O que nos faz tão interessados em ler e ver violência, crimes, roubos? E qual o impacto em nossa sociedade de ver tanta violência e criminalidade nos veículos de comunicação?

Eu, particularmente, creio que a notícia diária de crimes e violência cria uma certa dessensibilização para com a violência por parte do público. Crime vira espetáculo, terror vira hábito, medo da cidade e do outro vira lugar-comum.

Também acredito que estar num estado de tensão e descalmaria é um dos pilares do capitalismo: não confie nos outros trabalhadores e não seja amigo do seu vizinho, gente unida é perigosa e ameaça a ideia da propriedade privada. Compre algo que quer hoje, quem sabe se amanhã você não leva um tiro de um marginal. Aproveite também para investir em segurança privada, condomínios murados, uma arma para proteger sua família e seu carro.

A criminalidade é filha da disparidade econômica e social.

E ler sobre criminalidade diariamente no jornal me faz mal. Me trás uma visão negativa do mundo e das pessoas, um medo de sair na rua e de estar vivo.

Essa "descolagem" propõe mostrar o quanto os canais de notícia se dedicam em publicar criminalidade: removendo apenas as matérias sobre crime das páginas iniciais desses veículos de notícia, ficamos com grandes espaços em branco, lacunas intransponíveis, espaços para respirar, e as notícias sobre outros assuntos (arte, esportes, política, famoso) ganham destaque. Podemos perceber o quanto eram pequenas e ocupavam pouco lugar na página. Mas agora que as notícias violências foram embora, elas recebem ar puro e um olhar mais dedicado.

Removi as notícias fazendo um print da página principal dos veículos de comunicação e depois utilizando o programa de edição de imagens Paint. No entanto, esse projeto tem possibilidades maiores: um dia, posso desenvolver um plug-in para navegadores (como o chrome e o firefox) que remove notícias da página inicial automaticamente baseado em palavras chaves (como crime, tiro, bala, fuzil, destruição, assassinato etc) - da mesma maneira como funciona a função blacklist em plataformas como o Tumblr ou o Twitter.

Se você sabe mexer nessas coisas de plug-in, ou já conhece alguém que tenha feito isso, me dá um toque (levisporto14@gmail.com).

"Jornalismo serve para vender publicidade (e violência)" ou "Descolagem" - Obra criada para a disciplina de Literatura e Audiovisual da UFC, em 2019.

A proposta era a de fazer uma colagem.

Publicado por Levi S. Porto, em 27/08, para seu blog farofinhas.site