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Inverno

Novembro enevoado
Coberto de pétalas
Enegrecidas
Num branco ensurdecedor
Verdades sobre mim são escritas
Em carvão negro
Sobre papel tão limpo
Eu vejo em preto e branco.
Tudo é tão claro para mim
Ou tão escuro.
Dezembro abaixo de zero
Coberto de gelo
“As águas nunca são as mesmas,
Pois o fluxo é sempre perpétuo”
Disse quem nunca viu o inverno.
Eu sou uma rachadura
No que antes era um grande rio.
Eu piso, eu piso, eu piso
Eu quebro o rio inteiro.
Mergulho.
Penso, ensopado
“Trouxe a primavera de volta!”
E pego um resfriado.
Mas o outro dia não me traz muita surpresa
Ao caminhar pelo mesmo rio
Abaixo de zero, coberto de gelo.
Eu vejo em preto e branco
A mesma rachadura
As mesmas águas
O mesmo rio.
Tudo é tão claro para mim
Ou tão escuro.
Que lindo seria
Ver a primavera de volta
Mas que diferença isso faz
Pra quem só vê em preto e branco
Janeiro derretendo
Coberto de mim
Eu piso, piso, piso
Eu quero o rio inteiro.
Eu vejo a primavera mais linda
Em águas que nunca são as mesmas
Num fluxo perpétuo.
Mergulho.
Eu sou um grande rio
No que antes era só uma rachadura.