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Parquinho

me abraça e me beija e me amarra e me cala a bocame atiça me carniça me roliça –
(os remédios estão surtindo efeito) que coisa louca
me faz em pi ca di nho diz que eu sou uma delícia
uma gostosa um pitel um bocadinho
de molho pra engrossar meu corpinho magrela
me devora joga os ossos fora
os cães fazem a festa!
desinfeta o sangue que vai pelo ralo
queima os colchões
e minhas roupinhas.
me carrega no estômago por aí.
vamos ao supermercado à farmácia à padaria
ao parquinho onde eu agora estaria
se não aos poucos saisse de ti toda ida ao banheiro.
outra criança em cativeiro.
e abraça e beija e amarra e cospe na pia
os últimos pedacinhos de mim.
eu acabei exatamente assim!
mas prepara outra receita porque é preciso variar nessa vida.
o parquinho vai ficando cada vez mais vazio
e você cada vez mais gordinho
três porquinhos
e o lobo mal
lua cheia. outra criança se transforma
vira de corpo um adulto
e de alma um velho
cujos minutos estão contados.
e vamos todos embora pelo ralo
cobertos pelo mesmo molho
pra engrossar
seu grosso, rolha de poço, cata piolho.
tomara que acabe no fundo do esgoto
como eu e as crianças do parquinho