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Menina Penetra

  • 25 de Abril, 2021

ficamos um tempão deitados na areia, afagando os grãos entre os dedos, como se pudéssemos sentir cada uma das microscópicas rochinhas que formam o deserto. li uma vez em algum lugar que a areia um dia já foi uma pedra gigante que se esfarelou em mil pedacinhos e agora vive podendo viajar por aí, de vento. será que a vida das pedras é melhor assim como dura e firme ou esfarelada como farofa?

quem sabe um dia todas as pessoas do mundo eram parte da mesma pedra e se esfacelamos por aí. nos espalhamos e tomamos diferentes rumos cada um, mas somos parte da mesma coisa. o vento e a água tratam de transformar a pedra em areia e também a areia em pedra. o ar carrega os grãos e forma grandes blocos de dunas. com água pode-se fazer castelinhos de areia.

o sol nos queima a face e nos deixa mais corados do que quando estamos tímidos com a presença um do outro. só dela olhar para mim fico rubro como o rubi; respiro um pouco mais rápido e não sei onde guardar as mãos, que ficam inquietas. o sol é meu amigo e vai disfarçar minha falta de coragem, tinge minha pele.

"meu cabelo está todo molhado e cheio de areia. vou precisar lavar".

ninguém sabia quem era essa menina, ela só chegou. convidada inesperada. ninguém quis perguntar de onde ela era, de quem era amigo, se ela era mesmo penetra na festa. isso porque quando ela sorria ela iluminava o sol. era circense - fazia a gente rir e falava tão engraçado. era como se ela já soubesse de tudo.

ninguém imaginou que ela fosse embora tão cedo, também.

nos levantamos de uma vez para não sermos carregados para mais longe pelo mar. me imaginei sendo levado pelos oceanos, meu corpo de bote, atravessando mares turbulentos da Oceania até o Mediterrâneo, tempestades e ondas gigantes. se o sol torce por mim, o mar vibra em nos separar.

reparei em seu cabelo ondulado. e o vento querendo levá-lo que nem os grãos de areia. quem sabe para transformá-lo em dunas. acho que estou com febre.

"fica. vamos ver o pôr do sol" "só mais um pouquinho"

e o sol foi sumindo no horizonte. ninguém sabe porque isso acontece, as pessoas fingem que entendem. mas ninguém entende. ele só some, e é isso. no outro dia ele volta. eu achei que era o sol que fazia rebuliço nas águas e criava as ondas, mas isso quem faz é a lua.

o sol tocou o mar e o inundou de cor laranja. entrou um pouco para ver se a temperatura o agradava, e resolveu mergulhar de corpo inteiro. mais tarde o sol também teria de lavar o cabelo.

o dia sumiu e a menina também. me deixou a ver navios. acho que ela foi descendo com o sol, entrou nas águas e virou maré. não penso que ela tenha virado lua, a noite foi escura. se ela tivesse virado lua, seria dia novamente, do tanto que o sorriso dela é luminoso e deixa as coisas claras.