Adulthood
- Desculpa a demora. Na esquina tinha um buraco que depois de cair nele eu tive que dirigir até aqui pelo esgoto.
- Que nada, senta aí. Como foi de Carnaval?
- Legalzinho. Eu acho que se tivesse Carnaval até quinta, na sexta era meu enterro. Bloco dos Falecidos. Sim, começou o ano, né? Manda o Briefing. O que tem de bom?
- O que tem de ruim. Deve ser a peça publícitária mais difícil que essa agência já se encarregou de fazer.
- Eita nóis. Mais difícil que programa que dá pra crackear na internet? Mais difícil que vender licença do WinRAR?
- É a maior roubada. Querem que a gente venda pros jovens que ser adulto é TOP.
- Lá vem a metáforazona. Não vai dar não. As vezes eu questiono a moralidade dessa profissão de publicitário.
- Né isso? Ontem mesmo eu sonhei que o proletariado retomava os meios de produção da burguesia exploradora.
- Cara, não fala isso alto não. Sim, como a gente vai vender isso? Se eu pudesse nem eu tinha comprado. Por mim até hoje minha mãe lavava minhas calcinhas.
- Mas tem que vender, menina. As crianças de hoje não tão crescendo. Passam o dia jogando Mainecrefete, assistindo Youtuber. Chegam aos 30 anos rindo de meme. Tem uns que votam no Trump. Inacreditável.
- Nossa. Mas como a gente vende isso? Brainstorma aí alguma coisa.
- O que criança acha legal que só adulto pode ter?
- Não sei. Já sei. Carro. Criança adora carro. Sabe, ir aonde quiser, pisar no acelerador e tal. Dar cavalo de pau no meio da via expressa.
- Dá não. Quando forem pagar IPVA, seguro, gasolina, tirar amassado, ficar preso o dia todo em engarrafamento, todo mundo volta pra pedir reembolso de ser adulto.
- Poder viajar o mundo e tal? Ir pra onde quiser?
- Tem que maneirar na mentira. Se adulto pudesse ir pra onde quiser eu não tava aqui trabalhando, né. Adulto tem mais é que ficar preso na rotina.
- Sei lá. No passado as pessoas gostavam de casar, né? Ter dois filhos e um cachorro. Casar era irado.
- Pff. Eu acho que nem no passado as pessoas gostavam de casar. Tava todo mundo pressionando mesmo, aí casavam.
- Caraca. Vai pensando aí. Adulto. Adulto, responsabilidades, trabalho, conta pra pagar…
- Brinquedos e sonhos quebrados, velhice, monotonia, crise existencial…
- A gente pode tentar uma coisa mais madura. Sabe, dizer que amadurecer é parte de ser humano. Que é percorrer seu próprio caminho, quebrar a cara e erguer-se sozinho. Assumir responsabilidades, continuar em frente. Ver os filhos crescerem e amadurecerem também. Cuidarem de você quando chegar a hora. É belíssimo, impagável.
- Tá pirado nas drogas? Tem que vender isso pra jovem. Esse discurso aí é o maior textão de Facebook que você desrespeita. Nem li.
- Cansei. Põe assim, bem grande: “você vai poder sair da casa dos pais! dirigir à mil por hora na BR!”
- Boa! Vou colocar assim também: “nunca mais vai ter que pisar na escola ou fazer o ENEM de novo! você vai estudar o que quiser na faculdade!”
- Hahaha, eles sempre caem nessa. Perfeito. Aliás, acho que basta dizer que não precisa mais pisar na escola. Se me oferecessem passar da juventude direto pra velhice pra não ter que ir mais pro colégio, eu aceitava na hora.
- Então fechou. Vamo tomar um cafezinho?
- Vamo não que eu estou sem dinheiro. Saudades da mesada dos meus pais.
- Que nada, senta aí. Como foi de Carnaval?
- Legalzinho. Eu acho que se tivesse Carnaval até quinta, na sexta era meu enterro. Bloco dos Falecidos. Sim, começou o ano, né? Manda o Briefing. O que tem de bom?
- O que tem de ruim. Deve ser a peça publícitária mais difícil que essa agência já se encarregou de fazer.
- Eita nóis. Mais difícil que programa que dá pra crackear na internet? Mais difícil que vender licença do WinRAR?
- É a maior roubada. Querem que a gente venda pros jovens que ser adulto é TOP.
- Lá vem a metáforazona. Não vai dar não. As vezes eu questiono a moralidade dessa profissão de publicitário.
- Né isso? Ontem mesmo eu sonhei que o proletariado retomava os meios de produção da burguesia exploradora.
- Cara, não fala isso alto não. Sim, como a gente vai vender isso? Se eu pudesse nem eu tinha comprado. Por mim até hoje minha mãe lavava minhas calcinhas.
- Mas tem que vender, menina. As crianças de hoje não tão crescendo. Passam o dia jogando Mainecrefete, assistindo Youtuber. Chegam aos 30 anos rindo de meme. Tem uns que votam no Trump. Inacreditável.
- Nossa. Mas como a gente vende isso? Brainstorma aí alguma coisa.
- O que criança acha legal que só adulto pode ter?
- Não sei. Já sei. Carro. Criança adora carro. Sabe, ir aonde quiser, pisar no acelerador e tal. Dar cavalo de pau no meio da via expressa.
- Dá não. Quando forem pagar IPVA, seguro, gasolina, tirar amassado, ficar preso o dia todo em engarrafamento, todo mundo volta pra pedir reembolso de ser adulto.
- Poder viajar o mundo e tal? Ir pra onde quiser?
- Tem que maneirar na mentira. Se adulto pudesse ir pra onde quiser eu não tava aqui trabalhando, né. Adulto tem mais é que ficar preso na rotina.
- Sei lá. No passado as pessoas gostavam de casar, né? Ter dois filhos e um cachorro. Casar era irado.
- Pff. Eu acho que nem no passado as pessoas gostavam de casar. Tava todo mundo pressionando mesmo, aí casavam.
- Caraca. Vai pensando aí. Adulto. Adulto, responsabilidades, trabalho, conta pra pagar…
- Brinquedos e sonhos quebrados, velhice, monotonia, crise existencial…
- A gente pode tentar uma coisa mais madura. Sabe, dizer que amadurecer é parte de ser humano. Que é percorrer seu próprio caminho, quebrar a cara e erguer-se sozinho. Assumir responsabilidades, continuar em frente. Ver os filhos crescerem e amadurecerem também. Cuidarem de você quando chegar a hora. É belíssimo, impagável.
- Tá pirado nas drogas? Tem que vender isso pra jovem. Esse discurso aí é o maior textão de Facebook que você desrespeita. Nem li.
- Cansei. Põe assim, bem grande: “você vai poder sair da casa dos pais! dirigir à mil por hora na BR!”
- Boa! Vou colocar assim também: “nunca mais vai ter que pisar na escola ou fazer o ENEM de novo! você vai estudar o que quiser na faculdade!”
- Hahaha, eles sempre caem nessa. Perfeito. Aliás, acho que basta dizer que não precisa mais pisar na escola. Se me oferecessem passar da juventude direto pra velhice pra não ter que ir mais pro colégio, eu aceitava na hora.
- Então fechou. Vamo tomar um cafezinho?
- Vamo não que eu estou sem dinheiro. Saudades da mesada dos meus pais.