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Chifre é ação

  • Escrito em 2017

Clodoaldo acorda num belo dia e descobre que em meio à sua calva cabecinha crescem um par de chifres. No primeiro dia ele não dá bola. No segundo dia ele passa gel no cabelo para esconder. No terceiro, ele precisa ir ao trabalho usando chapéu.

Na contadora onde ele trabalha, seu chefe mala acha engraçado o novo figurino e derruba o chapéu de Clodoaldo, revelando a frondosa galhada. Seus colegas de trabalho explodem em risadas e piadas sobre infidelidade. Clodoaldo fica nervoso, mas volta à trabalhar de chapeuzinho.

Encolerizado pelo evento no trabalho, Clodoaldo volta para casa de carro e quase causa um acidente ao avançar a preferencial. Ele desce do carro para pedir desculpas, mas o motorista do outro carro quase infarta de rir ao ver os chifres do pobre homem. Clodoaldo volta para o carro xingando e vai pra casa. Lá, sua mulher percebe a galhada. Clodoaldo pergunta, só por precaução, se ela por acaso não anda traindo ele. Ela diz que a pergunta não faz sentido e que o ele deve fazer é ir ao médico urgentemente, que o porteiro em breve vai subir para consertar a torneira do banheiro.

Clodoaldo chega no hospital e recebe o diagnóstico de um incurável carcinoma de células escamosas. Sendo esta incurável, seu médico recomenda que ele aprenda a conviver com a doença. Clodoaldo não aceita sua condição, e vai embora com ódio. Ele dá uma parada na praça, onde observa sentado num banco as árvores e a natureza. Toca gentilmente sua galhada, refletindo. Clodoaldo fica manso.

De volta para o trabalho, o pobre homem recebe um memorando adereçado ao “Cornoaldo”. Ele fica cada vez mais acelerado e e resolve lidar com o problema de forma madura: convoca uma reunião na empresa e diz para todos os seus colaboradores (e o seu chefe) que o motivo dos chifres é uma condição médica que nada tem a ver com a infidelidade da mulher, e que ele agradeceria imensamente se parassem as gracinhas. Todos voltam ao trabalho. Mais tarde, Clodoaldo observa seus colegas saindo da sala do chefe disfarçando o riso e olhando em sua direção. Já totalmente pilhado, Clodoaldo se precipita até o chefe e descobre, na mesa dele, uma grande quantidade de chapeuzinhos de aniversário vikings. O chefe usa um dos chapeuzinhos, e tenta esconder os outros enquanto tenta parar de rir. É o suficiente para Cornoaldo, que corre em direção ao chefe na cabeçada e finca os cornos na sua barriga gorda. Os dois caem no chão, gravemente feridos.

Clodoaldo acorda numa cama de hospital com a galhada fraturada, coberta de bandagens. Ele recebe a visita de sua mulher e do advogado da família. Ela diz para ele que está cansada de receber ameaças domésticas de infidelidade e que viver com ele já passou do insuportável. Fala que vai ficar com a casa e com o carro no divórcio e que ele assine logo os documentos para o bem de todos. Antes de sair, ela fala que de fato o esteve traindo com o porteiro e que ele transa bem melhor que o marido. Clodoaldo, derrotado, é deixado sozinho.

Clodoaldo faz uma cirurgia de galhada e recebe alta do médico. Na frente do espelho do banheiro da clínica, sem ter onde ir, nosso herói resolve, num ato de desespero, arrancar o par de chifre com as próprias mãos. Após muito sofrimento e sangue derramado, Clodoaldo desmaia. Acorda dia depois, após uma segunda cirurgia, e recebe uma segunda alta do médico, com uma primeira recomendação para ver um psicólogo. Clodoaldo deixa o hospital numa noite de lua cheia. Ele caminha até a praça, cornos brilhando sob a lua. Lá, ele finalmente aceita sua condição de corno. Sua transformação começa, ele fica de quatro e vira um frondoso alce. Clodoalce desaparece em meio às árvores da praça.