Chinchila por um Dia
Quando eu comecei a escrever no Medium, eu comecei com bastante estardalhaço. Meus textos, logo na estreia, foram capazes de escapar da gaiola da categoria “amigos e familiares” e estavam minimamente “viralizando” — alcançando públicos que eu não conhecia, que não me conheciam, e que liam meus textos e sentia que ressoava com eles. Cada métrica de lidas chegava em números bem satisfatórios (entre 40 a 80 lidas por texto), isso com um semestre apenas escrevendo. Esses dados, combinado com o fato de que eu estava ganhando novos seguidores na plataforma praticamente toda semana, me fez pensar muito bem de mim como uma espécie de “autor em ascensão”.
Isso porque eu considerava que, se aqueles eram números iniciais, um público estava se formando e cada vez mais pessoas iriam ler meus textos e acompanhar minha produção enquanto artista. Nessa época eu também apostei em zines para alcançar uma galera que não gosta de ler online e também porque eu sentia que o formato viajava super bem — por muito barato eu podia dar um livrinho pras pessoas, elas leriam, achariam legal e voltariam para o Medium para ler mais.
Acontece que com o passar do tempo os textos não alcançaram mais leitores (no segundo semestre de 2017 cada texto estava entre 20 a 40 lidas), o formato zine estava me desanimando, e até a quantidade de seguidores estagnou. Eu tive uma ligeira subida no início de 2018 (entre 25–50), mas no segundo semestre eu dei uma desanimada porque estava perseguindo outros projetos (talvez fale sobre isso depois), então não publiquei mais nada.
Em 2019 eu voltei a escrever e por enquanto eu tenho as piores métricas que já tive (entre 1 e 10!). Tive uma história que teve duas lidas… Logicamente sei que vários importantes fatores estão em jogo também, como o fato de eu não mais divulgar tanto os meus textos em várias redes sociais e que meus textos agora são menos acessíveis e tratam de temas menos universais.
Eu jamais moldaria o meu conteúdo baseado no que está “dando certo” ou “sendo lido” por mais gente, só para conquistar mais e mais público; entretanto todo autor sabe o quanto é frustrante que pouca gente esteja lendo você e encontrando significado nos textos. Isso ainda é mais forte para mim caso você considere minha “carreira”, isto é, muita gente me lia no passado e agora quase ninguém. O baque é real.
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No dia primeiro de outubro de 2019 eu resolvi publicar um livro físico. Digo físico porque anteriormente, em maio de 2018, eu havia compilado quase todos os meus textos e lançado em formato e-book — eu acreditei que ter todos os textos numa lapada só seria mais acessível que ter que navegar pelo site buscando cada texto. Ele não foi lá essas coisas e teve duas compras na Amazon e 18 lidas na versão grátis. Acho que não preciso dizer o quanto esse resultado é decepcionante.
No entanto o livro físico aparentava ser uma boa ideia uma vez alcançaria um público que eu sei que gostaria de ler meus textos, mas que não tem nenhum hábito de ler online e muito menos de visitar regularmente blogs de escrita. O mundo é digital, mas nada foi capaz de derrubar o formato “livro” e ele continua firme e forte nas nossas estantes. Pesquisei por meses, atrás de editoras e gráficas que ou abraçassem meu projeto ou ao menos fizessem um preço que dá no bolso (ou seja, ou eu firmaria contrato ou iria independente).
Você já deve saber no que isso daria, e nenhuma editora sequer considerou meu projeto (das poucas que responderam meu e-mail), e as gráficas faziam por um preço absurdo (entre 18 e 36 reais para imprimir cada livro que eu venderia por 20, excluindo a taxa de envio!). Restaram-me duas opções: fechar com uma gráfica em São Paulo (como muitos autores indies fazem, inclusive daqui de Fortaleza) ou aceitar uma proposta que minha mãe estava me dando (lançar o livro sob a editora que ela trabalha, e dessa forma conseguir descontos com impressão, diagramação, revisão etc).
Apesar dos descontos, e do logo da editora estampada da capa, eu ainda era completamente indie. Eu custearia toda a produção, distribuição e promoção do livro (isso é bem comum, nenhuma editora quer lançar um autor que ela não tem certeza do retorno do investimento como eu). Cortando lucros, minha intenção era a de fazer uma tiragem minúscula com no máximo 200 exemplares, que eu acreditei que seriam vendidos em no máximo seis meses.
Entretanto minha mãe me convenceu a fazer uma tiragem de 500 exemplares (!!!), já que o preço por exemplar era o menor possível (10 reais para imprimir cada um), e que eu não precisaria voltar na gráfica para fazer novas edições quando elas esgotassem. Eu me lembrei dos tempos de zine, quando eu voltava sempre na gráfica para imprimir os mesmos para cada feira (teria sido melhor imprimir um monte de uma vez), e aceitei o desafio.
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Chinchila teve 600 reais de gastos com diagramação, 200 em ilustração, e 5000 em impressão (!!!). 500 exemplares foram impressos, mas 30 de brinde que já dei. Nosso contrato estipula que temos que pagar 2500 um mês após a impressão, e 2500 dois meses após a impressão.
Veja bem. Eu não viso lucro financeiro quando eu escrevo (se fosse assim, não estaria escrevendo), nem como eu já falei conquistar público ou fama. Mas eu não sou tão abastado a ponto de poder tirar cinco mil reais do meu bolso para custear um livro e não me machucar com isso (pouca gente é). Sendo assim, é lógico que se eu não tinha apoio de uma gráfica, de uma editora, do governo, iniciativa privada que fosse, eu teria de ser completamente indie e retornar o dinheiro com a venda dos próprios livros.
No momento que eu escrevo esse texto, 68 livros foram vendidos — faltam vender 182 para custear minha operação. Esse é um número absurdo, e meu maior erro foi acreditar que eu poderia retornar o investimento em 3 meses, como eu gostaria. Não tem como vender 250 livros em 90 dias. Eu não tenho um público. Eu não conheço pontos de venda, eu não conheço modelos de venda efetivos, eu não conheço o mercado. Eu estou vendendo sozinho com a minha mãe e a minha amiga Raquel, de porta em porta. Ou, como nesses tempos digitais, entrando no privado de cada um que eu conheço e perguntando “oi, você quer um Chinchilinha?”
Ler “How Music Works”, do vocalista do Talking Heads, David Byrne, me fez perceber que isso é normal para todo mundo que começa a trabalhar com arte, seja ela música ou literatura. Sem audiência, sem verba, sem lucro. Ele até cita casos de gente que foi a falência por superestimar o interesse do seu público e lançar mais álbuns do que o mercado quer adquirir (você já ouviu de gente dando ingresso grátis porque a arena não lotou? e sabia que os Ramones e o Michael Jackson uma vez faliram? no pico de suas carreiras e fama, zero dólares para gastar).
Semana passada eu estive numa coluna do Diário do Nordeste, não pelo lançamento do Chinchila como muita gente acreditou e sim para falar de poesia e produção poética. Óbvio que acho que foi um grande reconhecimento e fico extremamente grato pelo convite; acho inclusive que acontecerão mais no futuro. Mas em nenhum momento eu consegui sentar para pensar o que isso realmente significava — o que significa isso tudo de escrever e publicar um livro, colocar nas mãos das pessoas, elas me lerem, de ir parar na redação de um jornal para falar sobre o que eu faço. Isso porque tudo que eu consigo pensar é como vender mais Chinchilas e como recuperar o dinheiro.
No começo parecia uma aventura divertida, isso de ter que correr contra o tempo para fazer tantas vendas, estudar o mercado, modelos de venda e tal. Mas eu acho que essa operação inteira está obstruindo a forma como eu enxergo meus textos, meu público e até minha vontade de escrever e publicar. Chinchila é um livrinho de poemas, e eles são doces e acessíveis — se você me conhece sabe que eu gosto também de coisas estranhas e doidas e que gostaria de publicar algo nesse sentido no futuro. Quem custearia algo assim? O perfil de quem está comprando Chinchila é totalmente diferente de quem gostaria de ler algo, como por exemplo, meu texto que rendeu duas lidas. Como eu faço, então?
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Eu decidi desacelerar meu esforço de vendas de Chinchilas uma vez que essas táticas estão ficando intrusivas e desagradáveis. Portanto, espero retornar meu investimento não mais em 3 meses (o que se provou impossível) e sim entre 9 a 12 meses. Apesar de tudo, não é todo mundo que pode escrever e publicar um livro, custeá-lo, bater no jornal, e ainda realizar 68 vendas. Para um começo, acho que estou OK. Tudo é experiência e aprendizado, e a parte desse desânimo inicial ainda acho que vou escrever mais livrinhos (e outras artes) nos anos por vir.
Muito obrigado pela sua lida e pelo seu apoio. Sem eles nada disso seria possível.
ps: Compre Chinchila! hahaha
ps2: Esqueci de dizer, mas eu fiz promoção paga pelo Instagram pra ver no que que dava, sugestão de uma amiga. É muito útil se você precisar de likes (com 20 reais eu consegui em torno de 100 likes a mais no post do livro), mas se você precisa de vendas que nem eu não rola (só uma pessoa me procurou atrás de um Chinchila!) Ser desagradável e ir atrás das pessoas no privado, isso sim se traduz em vendas, e eu consegui que uns 10 conhecidos comprassem. Ao preço, é claro, de ser chato com outras 30 que disseram estar sem dinheiro no momento.
ps3: Meus conhecidos não são exatamente leitores e leitoras e muito menos tem grande interesse em poesia. Você pode argumentar que eu não estou encontrando o público certo nem indo onde quem compraria está. Isso é tudo verdade! Se eu encontrar essa audiência, eu conto pra você!