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El Desierto

  • 20 de Maio de 2018

(…) desenrolou o mapa com facilidade, uma mão firme embaixo e uma mão firme em cima, e assim percebeu quanta areia ventava naquela hora, porque o papiro tremulava tão forte quanto as velas do navio que o trouxe até as ruínas de Cartago. O ruído do vento corrente enchia seus ouvidos.

Concentrou-se nas belas cores em torno dos desenhos das dunas, as linhas simulando o vento, os detalhes rústicos do compasso indicando o norte geográfico. Procurou-se, primeiro passo para aquele interessado em reconhecer o espaço em volta. Encontrou-se, mas não reconheceu nenhuma das enormes formações de areia em sua frente. O mapa mostrava belas dunas na paisagem, e custou um pouco até perceber que, fora do papiro, os blocos haviam, grão por grão, sido carregados pelo vento da tarde.

Aborreceu-se enormemente. “Que tipo de demência alguém precisa ter para conceber um mapa que só funcione determinada hora do dia? Hora esta que também esqueceu de registrar no papel. É preciso ser duplamente pilantra, então”

Removeu a adaga do bolso, pronto para transformar o mapa em pedacinhos menores que os grãos de areia que compunham as dunas. O papiro voou de sua mão, fugitivo temendo seu destino, e o viajante o apanhou só lá longe.
Foi quando pode olhar em volta. As dunas haviam mudado de lugar. Aquele não era um mapa do tesouro, percebeu, não daqueles comuns que indicam sua localização no espaço. Aquele mapa indicava, em realidade, a localização no tempo.

Quando as dunas do papel forem as mesmas do deserto, a passagem estará aberta. Agora, era só questão de paciência. E olho firme no relógio de bolso. (…)