Alta Frutose
Era uma vez uma raposa que comeu tantas uvas que ficou enjoada foi parar no frotinha da parangaba a barriga deste tamanho inchada de uva. A bicha chega estava roxa ao invés de laranja, a língua parecia depois de comer aqueles chicletes lá que tem uma porrada de açúcar e compostos químicos ninguém sabe o que mais e pozinho mágico que a baba também fica roxa é uma porcaria só.
O médico ao examiná-la disse ó a metáfora aí man, nem precisava de tantas uvas assim, uma só já matava a fome. A raposa comeu tantas uvas que buchou 20kg, derrubou a árvore de uvas, a uveira eu acho que é o nome, e as outras uvas fizeram a mala e fugiram com medo do massacre de uvas. Várias se estatelaram no chão e apodreceram, e não acaba aí: a uveira caiu, saiu rolando pelo desfiladeiro, atritou com o chão da floresta, que causou uma centelha que explodiu e tacou fogo na floresta inteira. Alguns animais ficaram feridos; outros não quiseram falar com a nossa equipe. Esses últimos estão encapuzados e em busca da raposa desgraçada.
A Raposa tentou se desculpar dizendo que não sabia que ia cagar tanto o pau dessa maneira, mas você sabe como são os animaizinhos da floresta, principalmente esses antropomorfos de fábulas estranhas. A Raposa jurou no tribunal da natureza que deixaria o frutarianismo e agora só comeria soja e derivados (eca). Não era o suficiente para o juri, e o advogado Sr. Raposo convenceu a banca que a Raposa não iria comer nunca mais. Dieta da água e tal. Esse era o único trato capaz de livrá-la da detenção.
Numa dessas entrevistas com sites de subcelebridades, a Raposa declarou que não sabia que tinha decepcionado tantos animais e que estava só querendo lanchar. Ela achava que fazia o certo, e que era uma prova de motivação e merecimento conseguir subir galho por galho atrás das uvas; apontou também que outros animais também comiam uvas e que nada ia errado, todo mundo sobrevivia e sol continuava brilhando para todos. Um entrevistador ainda rebateu dizendo que se Raposa tivesse nascido pra abocanhar uvas elas tinham nascido com asas ou com um foguete enfiado na cauda.
A Raposa ficou p* com a situação, por que não fica todo mundo felizinho? Ela queria dizer, aprendi a lição meus bons, e acho que todos os leitores e leitoras de todo o Brasil também entenderam; não seja fominha, contente-se com o que tem, não se atrepe em galho podre de árvore que você cai e se lasca todinha. Mas essa é a justiça animal e todos tem que pagar cedo ou tarde.
A Raposa não foi presa, e quando os animais veem ela na rua acham que ela está foragida e ligam pro 190. Você pode imaginar o quanto é difícil pra Raposa arrumar um trabalho; resultado é que ela passou muito tempo desempregada só lambendo as patinhas.
Cansada dessa situação não muito agradável, a Raposa montou um evento para reunir todos os animais da floresta chamado Zoofest 2019 (e até parece que alguém foi). A Raposa subiu num palanque (que era só um tronco mequetrefe de árvore) e ficou esperando a biosfera chegar. Os pinguins, sempre educados mandaram um DVD do Pingu de presente por correio e disseram num cartão-postal que as passagens nessa temporada estão muito caras, razão pela qual não vão poder comparecer. Todos os outros animais não se deram trabalho nem de responder o convite, quanto mais comparecer ao evento.
A Raposa, uma nova Raposa, confiante e orgulhosa, ficou esperando até de noite. E esperou, esperou e esperou. Quando o sol já tinha se posto, e ela estava já papocando os balões para ir embora, apareceu o animal mais fedorento, detestável e perigoso de todos: o ser humano.
A Raposa engoliu em seco mas se estava numa fábula então era importante que a história continuasse e tal. Não fosse isso ela saía correndo e se metia num buraco com medo de bala e doenças transmissíveis.
Enfim. A Raposa tomou coragem do fundo do peito, respirou fundo, e soltou: “Nobre humano, não sonhas com os eventos que me decorreram. Fui injustiçada: cometi um erro e a natureza inteira voltou-se contra a mim. Fiz o que não devia, e não bastou o arrependimento para merecer o perdão. Percebo, no fim, que a ambição me cegou a ponto de deixar-me a mercê do pior dos males — deixar de ser quem eu verdadeiramente era!” Ao que o humano respondeu, “KKKKK óia a raposa falante!! bom d+”
A Raposa prosseguiu, “será este o capítulo conclusão que o destino reservou para mim, e a moral da minha história será escrita sob as custas da minha vida? será que este humano aí presente simboliza que quando um animal larga de sua animalidade natural, aproxima-se de um homem, e portanto, uma besta, e melhor tratamento à ele, a morte? me matarás, humano? meu sofrimento finda junto com o fim do meu respirar?”
O humano respondeu “vai doida, eu passei no habibs e enchi a pança de esfiha. não mato raposas que não enchem o saco. sim, você tava dizendo que os outros bichos te odeiam? fala mais sobre isso aí, você tem cara de corna, deve ser uma boa história”
A Raposa contou sobre todos os eventos decorridos na fábula, numa linguagem mais jovial pro ser humano burro entender. Ele entendeu boa parte; quando ele não entendia ele falava “anham” e “caramba!” fingindo entender e ficava por isso mesmo. A Raposa perguntou, enfim, qual o julgamento do humano sobre ela.
O ser humano olhou cansado pra Raposa, pro fundo dos seus olhinhos raposais, e disse:
“man, já que você não se sente tão culpada, porque não sai por aí plantando árvores de uva? já que você derrubou uma, plante duas. já que você fez o que é errado uma vez, faça o que é certo duas vezes”.
A Raposa achou muito boa a moral e saiu por aí plantando uveiras. Os animais deixaram de ter raiva dela pra achar graça e rir da primeira Raposa agricultora do planeta. Mas daqui a uns 30 anos, que é o tempo que demora pras uveiras darem um monte de uvas, eles vão se lembrar com carinho da Raposa doida que andava pela floresta com um balde cheio de sementes, um macacão (a peça de roupa, não o animal), e a vontade de encher a floresta de bondade, descontração e estilo.
Moral da História: deixe de putaria e tome tento. faça o bem, plante árvores, coma esfihas, e chame o autor dessa história pra rolezar.