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O Mercenário

  • 25 de Janeiro de 2018

Ralph remove a pistola do coldre. Não, não, não, não. Lentamente ele se aproxima da 88R Vessel, cuidadoso para não fazer nenhum barulho. Olha ao redor procurando uma entrada na qual possa entrar escondido na nave, mas o turbilhão de pensamentos o impede tão forte quanto sua tremedeira. Será que me encontraram, mais cedo que o planejado. Será que terei de matá-los, será que me matarão antes.

Ele remove a segunda pistola, e a empunha em direção aos céus. O segundo sol de Namasca se põe lentamente. Cada segundo é uma eternidade para quem segura tão firmemente uma arma.

Ralph escuta barulhos no interior da nave. Não fosse por isso, ele hesitaria até que não fosse mais possível, negando até o fim que alguém estava bisbilhotando o interior de sua 88R enquanto ele estava fora. Os sons de metal sendo derrubado faz com que seja verdade.

Se eles encontrarem a pesquisa, eles vão destruí-la. Eles vão destruí-la assim que receberem ordens para o fazê-la; eles vão me matar em seguida. Eu preciso fazer alguma coisa. Mas quantos soldados estão aí? Dois? Quatro? Seis? Quantos à caminho?

Ralph olha em volta pelo deserto escaldante de Namasca. Atiradores podem estar posicionados nesse exato momento, sua cabeça centralizada em um pontinho vermelho em um visor de calor.

O pensamento é o suficiente para que, num pulo, Ralph entre na nave com as duas armas em riste. Mesmo negando, mesmo tremendo.

Os barulhos cessam. Ralph investiga cada compartimento, e cada vez que acende uma nova luz ele congela mais uma vez. Sala de vôo, deck principal, asa direita, asa esquerda.

Não no depósito. Por favor, não no depósito.

Depósito.

Ralph não acende a luz. De alguma forma, não parece ser a coisa mais inteligente a ser feita. Sendo assim, qual é? Ele imagina se é uma boa ideia apenas abrir a porta e descarregar o pente em quem estiver lá dentro. Fariam o mesmo com ele. Farão o mesmo com ele.

Ralph se põe contra a parade, do lado esquerdo da porta. “Quem estiver aí, derrube as armas e o colete e saia agora com as mãos para cima.” Nenhuma resposta. “Eu estou armado”.

Nenhuma resposta novamente, o que possibilitou tempo o suficiente para Ralph pensar que essa foi a pior decisão a ser tomada. Caso tenham comunicação binaural, eles estão nesse momento conectados à uma central que vai ordená-los que destruam a pesquisa e o matem no local.

Tudo isso foi por nada, e aqui tudo se perde. Eu vou morrer em Namasca, tão longe de casa. Isso não era o planejado. Eu fui um garoto e fui um homem; fui um engenheiro e um mercenário; e agora morro nas mãos do mesmo exército que jurei proteger, pois escolhi sabotar as pesquisas de Instrumentalidade Humana. Isso é muito minha cara…

Ralph abre a porta do depósito, onde se encontram as pesquisas que ele roubou horas atrás. Duas pistolas em punho, tremendo como nunca tremeu. Isso não era o planejado.