Rememorando Vidas Passadas
Houve uma vez um homem que, ao sucumbir de uma doença, parou então de enviar cartas aos seus familiares que esperavam seu retorno da guerra. E seus companheiros de batalhão voltaram, e seus superiores; e por fim a guerra teve parada. Mas o navio que o traria de volta para casa distanciou-se de seu destino e passou anos perdido sob as águas do oceano, sem dar notícia nem dar aviso, de forma o encontro com este homem tornou-se impossível. E então o presumiram morto em ação, sumido em combate, longe de casa. E as providências formais e emocionais tiveram efeito sobre todos que conheciam seu nome.
Mas dado vários anos, o homem finalmente voltou para casa, e pôs pés na terra que antes havia deixado. E logo se apressou em ver sua família, seus amigos, seu cachorro, seus trabalhos, suas riquezas. Mas qual foi sua surpresa, ao ser recepcionado, que a vida de todos ao seu redor tinha tão bem prosseguido sem sua existência. Sua mulher havia se casado com outro homem, com quem havia tido vários filhos; seus amigos haviam se tornado senhores e senhoras de grandes empreendimentos e feito novos e mais queridos amigos; seu cachorro havia sido sacrificado, pois estava demasiado velho; e o governo tratou de colocar em novas mãos o controle de seus trabalhos, que prosperavam em maioria. Suas riquezas foram consideradas heranças, e dividida em muitas partes; entregue para vários, mas entre eles não estava o homem.
E ele se apercebeu tão sozinho e substituível, tal qual um objeto e não uma pessoa humana, e esperava ser abraçado e que lhe dissessem o quanto ele foi esperado, e o quanto sentiram sua falta; ao invés disso, a vida de todos tinha continuado como se ele nunca tivesse acontecido. E ninguém parecia sentir sua falta, ou o querer de volta em suas vidas; era como se uma lembrança distante, uma vida passada, uma memória difícil de recuperar. E a terra em volta dele era a mesma. Sua ausência em nada havia transformado as pessoas ou o mundo em que viviam.
E como ele não detinha mais posses, deitou num banco de praça e maldisse todos os que cuja vida continuaram tão bem apesar de sua ausência. E se sentiu o mais descartável de todos os homens que andavam na terra, e que tanto fazia se vivo ou morto, principalmente para aqueles que ele queria mais bem.
E dormiu, e começou a sonhar. E nesse sonho viu seu cachorro falecido, e se perguntou se ele ia rosnar para o homem como todos os outros. Mas o cachorro o reconheceu, e apesar de não fazer festa para ele como antes, o observou com atenção. E o homem também o maldisse, que ele era como todos que o abandonaram para o passado. Ao que o cachorro respondeu, não é você que abandonou a todos nós? Não foi você que parou de enviar cartas, não foi você que ao invés de voltar para casa, decidiu ter novas vidas em outras terras?
E o homem se calou. E seu cão continuou, eu posso perdoá-lo. Se você perdoar a todos também.
Ao que homem acordou. E percebeu que perdoar é uma das coisas mais dificeis que um homem pode fazer; ainda mas um homem que se sente abandonado.
E, enquanto observava o navio em que voltou para sua terra, imaginou se devia viver sob a identidade do homem que partiu mas que agora voltou, ou aceitar que estava de fato a algum tempo morto e tudo que lhe restava nesse caso era assumir uma nova identidade e uma nova vida.